Correio Elegante - Completo

Mês de Junho começa Festa Junina em tudo quanto é lugar do Brasil - até onde sei claro.
Minha rua, dias antes de entrar no mês de Junho, já estava toda enfeitada com bandeiras, barracas improvisadas preenchidas com folhas e pedaços de bambu, balões e um espaço com lenha para ascender a fogueira. Lembro até hoje que a "prisão" era próximo da frente da minha casa. Particularmente adoro essa época por que vemos amigos, a rua fica cheia de gente, comes e bebes esóticos da época que combina com aquele friozinho de outono e com o início do inverno.
Enfim, a festa acontece geralmente aos finais de semana - sexta a domingo - e as atrações são incontáveis. Meus amigos então decidiram aparecer em casa. Estava eu lá de pernas pro ar vendo televisão. Nem lembro no que estava passando, mas sei que até pipoca eu estava comendo. Vinham com o convite já na mão para o evento e óbvio que não podia negar. Conversamos rápido, colocamos vinhetas em dias e nos despedimos. Iríamos nos ver agora somente no dia e no horário que marcamos.
Como é uma festa temática, decidirmos ir fantasiados e para combinar estaríamos de vestido vermelho, chapéu, maquiagem e tudo aquilo de direito pra deixar tudo mais engraçado.
Finalmente chega o dia, ou melhor, a noite! Ah que beleza! Tava um "inferno" a rua. Nem parecia que o povo tava com frio e claro não foi diferente comigo. Meus amigos apareceram em casa com quase 30 minutos de atraso e eu já tava na minha 3ª latinha de cerveja.
Eles pareciam mais Elas - o que os deixavam mais a vontade. Não dei muita bola para os cumprimentos e decidi logo arrastá-los para rua. Nem sabia no certo o que iríamos fazer. Estávamos cercados de barracas de doces, jogos e claro... homens! Ah, acho que era o melhor dos eventos que tivera ido. Enfim, não era o que nos "pregava" atenção já que estávamos ali para nos divertir. Caminhando pela rua toda enfeitada e lotada de gente, fomos surpreendidos por um grupo de pessoas que nos alugaram para bater fotos. Aff... parecia que estávamos na parada Gay de São Paulo. Ficamos um tempão até que pudéssemos "atender" a todos quando de repente, uma garotinha me entrega um papel todo bonitinho feito a mão. Ele tinha um formato de coração e não podia deixar de perceber na borda que brilhava.
Era fofo e trazia uma mensagem na parte interna que dizia - "Olá, gostaria de te conhecer melhor! Posso?". A mensagem trazia na assinatura "Admirador Secreto". Que legal - imaginei na hora - pelo menos não era uma garota. Também, não seria tão fácil eu sabendo que a maioria do pessoal que morava no bairro já sabia que eu era assumido. Enquanto meus amigos tinham seus minutos de fama, eu perguntava pra garotinha como fazia para responder ao bilhete. Sem pensar, fui escolhendo o mais bonito dos que eu podia ver. Peguei um que dizia - "Estou curioso para saber como você beija. Onde podemos nos encontrar?". Como eu sabia que ela ia entregar para quem havia me enviado o primeiro bilhete, nem me preocupei em assinar.

A garota então seguiu seu caminho de volta se perdendo na multidão, e com muito esforço eu tentava seguir seu caminho vendo aquela criaturinha sumir aos meus olhos. Um dos meus colegas me chama atenção e em menos de segundos ao olhar para ele eu perco a garota de vista. “Que ódio” - imaginei. Como não a encontrava mais ao longe, voltei minha atenção para meus amigos.
Já estávamos todos rindo a toa e quase bêbados e decidimos ir ao nosso ‘tour’. Brincamos e até ‘ficantes’ dois deles arrumaram. Aff... que tédio, eu ainda estava só. Conforme ficava tarde, parecia que a rua lotava mais ainda foi quando um dos meus colegas me pergunta o por que da minha cara de preocupação. Eu, com a impressão de estar pisando na terra ainda voltando sabe-se lá de qual planeta, o respondo simplesmente que não tinha nada demais. Disse que estava longe. Ta boa! Tava é sugando de longe um menininho lindo que estava na barraca do caixa. Ele de longe parecia ter a minha altura, cabelinho dourado com mechas mais claras, um rostinho juvenil e um corpo pra lá de delicioso. Ai Jesus se eu pudesse - pensei. Nunca tinha visto ele por ali e obviamente não sabia seu nome. Despistando dos meus amigos que já nem notavam mais minha presença, decidi comprar algo só para ter o prazer de ver aquele príncipe de perto. Caminhei quase que atropelando todos à minha frente. Tava uma fila chata quando cheguei e de onde estava não conseguia vê-lo. Que Droga! Via ao longe aquele cabelinho dourado reluzindo a luz que ficava pouco acima de sua cabeça. Quando chego próximo de ser atendido, cadê o garoto? PQP - quase soltei! Fiquei muito chateado e fechei a cara na hora. Sem ter o que comprar, acabei por pedir algumas cervejas, fazer o que né?
Caminhando de volta ao meu ponto de partida, encontro a garotinha dos bilhetes. Gritei para que me ouvisse. Ela ao me vê, vem de encontro sorrindo não sei por qual motivo. Pergunto pra ela se conhecia o garoto da barraca do caixa e ela meio que desconfiada me responde que não! Putz, realmente não era o meu dia! Pensei um pouco antes de agir, mas pedi para que enviasse um recado ao mesmo.
Peguei um papel em branco e decidi escrever. Infelizmente nada que tinha visto na cestinha cabia ao momento naquele instante. Então escrevi: “Oi. Você não me conhece, mas aceitaria uma cerveja?”. Sei lá, poxa! Não tinha idéia do que escrever. E se ele fosse HT (hetero) e quisesse me bater se eu mandasse algo mais “picante”. Coloquei em mente que mesmo assim poderíamos ser amigos. A garota mais uma vez toda sorridente some aos meus olhos, mas desta vez não olhei para traz porque fiquei nervoso.
De volta ao meu ponto de partida não encontro meus amigos. Olhei para os lados e nada. Sentei então num banco da praça que ficava bem próximo dali. Eu já estava meio bêbado, mas tava consciente. Ficava viajando sozinho nos meus pensamentos enquanto tentava enxergar alguém que conhecia de longe. Mas nada! Abri então minha sacolinha de cerveja e peguei a última. Quando me preparava para abrir a garotinha surge do meu lado sei lá como me entregando o último bilhetinho que dizia: “Você vai ter que escolher um dos dois primeiro!”. Eu não tinha entendido nada do recado. Como escolher um dos dois se nem um eu tinha ainda. Aff! A garotinha foi-se embora dizendo que aquele era o último bilhete da cesta. A coitada mal sabia que eu não tava muito a fim de brincar de adivinha já naquele estado e virei então o resto da cerveja da minha penúltima amiga cerveja.
Já na intenção de levantar e ir para casa que não era muito distante dali estiquei meu braço para pegar a última cerveja que tinha caído. Ela tinha rolado para debaixo do banco e precisou de um contorcionismo meu para pegá-la. Foi engraçado. Quando volto à posição de uma pessoa devidamente sentada, me assusto com um vulto sentado ao meu lado - puta que susto que tomei. Enxergando já dois de tudo na minha frente e mal escutando tudo ao redor, ouvi de longe a pergunta daquele ‘ser’ que ali estava: “Você não vai deixar uma cerveja pra mim ou quer sentir meu beijo primeiro?”. Putz que da hora! Comecei a rir como uma hiena junto com ele penetrante naquele olhar castanhos claro que me atraia cada vez para mais perto. Quando dei por mim já estávamos agarrados trocando beijos e amasso. Com certeza a melhor parte da Festa começara ali. Com pouco tempo depois ele me chama para nos divertirmos. Aproveitar o tempo que ele havia perdido da festa. Lógico que não ficaria ali, né! De mãos dadas fomos pro meio do monte de gente que cercava toda rua e sumimos.
Como disse, não o conhecia e nunca tinha visto ele ali antes. Assim foi depois daquele dia!

FIM