Um dia de chuva - Completo

Tenho 24 anos. Não sei bem como me definir. Gay ou homossexual, ativo ou passivo, mas estava gostando dele sim.
Trabalhávamos juntos na mesma empresa e minha mesa era próxima da dele. Lembro até hoje quando ele se tornou parte do quadro de funcionários.
Como eu ‘tricotava’ sempre com a garota que ficava na recepção, ela sempre me telefonava pra falar dos boys que vinham fazer entrevista. Com esse não foi diferente. Lembro que fui entregar uma impressão de algo que ela havia me pedido.
Quando entrei na recepção, nossa... vi ele entrando. LINDO demais!
Pouco maior que eu... meio loirinho... uma boca que parecia ser esculpido por um artista. Quando ele entrou e deu aquele sorriso, não precisei dizer mais nada. Ela sacou que eu já tinha me apaixonado por aquele olhar. Foi demais!
Desde então, como não passava só de olhadas... retornei para minha mesa e voltei a trabalhar pensando naquela imagem exuberante que eu acabará de presenciar.
Com poucos dias depois ela comentou comigo:
- Sabe quem pode ser o novo funcionário da empresa?
Eu já nem lembrava mais de quem ela falava já que tantos entravam e saiam daquela recepção.
Sem ter noção de quem era, ela começou a descrevê-lo e na hora me ‘toquei’ de quem ela falava.
Fiquei tão ansioso com a notícia que mal pude dormir um dia antes dele estar no nosso quadro de funcionários.
Finalmente chega o tal dia, e eu claro tinha que fazer minha parte tentando puxar assunto. Anderson era nome dele.
Ai meu Deus o que era aquele Deus Grego. Mal me contive quando ele começou a falar... eu tava mergulhado profundamente em suas palavras que mal pude perceber que estava me afogando.
Enfim... um dia qualquer que estávamos sós na copa, conversamos a respeito de onde morávamos e descobri que ele era meu vizinho. Pronto!... não dava nem para acreditar. Conversa vai e conversa vem... a única coisa que consegui arrancar dele era que morava junto com irmão e que dividiam as contas já que o apartamento era do irmão.
Ótimo... comecei então a buscar algum motivo para sair com ele!
Não precisou de muito esforço e nem de muito tempo quando um dia qualquer começou a chover. Era uma chuva forte e eu sem guarda-chuva tive que esperar na saída do prédio onde trabalhava. Não passando muito tempo ele apareceu e talvez com dó me ofereceu carona de carro. Eu estava muito estressado naquele dia com um projeto que estávamos prestes a entregar e ele mais cedo tinha presenciado isso. Enfim, aceitei o convite.
Nossa! Não parava de chover de jeito algum. A cidade de São Paulo estava parada com tanto carro. Era um trânsito de matar de raiva. Sem querer em meio a nossa conversa meio que sem nexo, disse a ele que chegando em casa ia tomar um banho e ia sumir para um bar beber um pouco para desestressar. Com uma risada de canto de boca ele me olhou e disse que tava afim de fazer o mesmo.
Não precisei segurar tanto a vontade de chamá-lo que o mesmo teve a idéia de parar num barzinho próximo para fazer a tal sessão.
De cerveja e um aperitivo íamos nos conhecendo cada vez mais.
Quando vi por mim já tinham sido 12 garrafas. Estávamos um pouco alterados. Ele estava mais. Começou então a comentar que tinha brigado com a namorada uma semana antes e que tava meio angustiado. Aff... daí a conversa começou a ficar chata. Bom, como todo bêbado eu estava ali para acompanhá-lo não só na bebida mais também na conversa e me mostrei interessado no assunto. Começou a falar de uma maneira que percebia que estava quase chorando. Realmente ele estava mal. Em todos os sentidos.
Parou de chover e decidimos então caminhar rumo à nossas casas. Quando chega no carro ele me dá a chave para dirigir após eu ter confirmado que tinha carta.
Antes deu entrar deixo ele no banco de passageiro e fecho a porta. Quando estou prestes a colocar a chave no contato, Anderson debruça sobre mim. Foi muito rápido! Meio que driblando a alavanca de marchas ele para quando sua cabeça encosta nas minhas coxas e com o rosto pra cima. Estava de olhos fechados e aquela boca dele me atraia a roubar um beijo. Não pensei e agi! Fechei os olhos e torcendo pra ele não me agredir roubei-lhe um belo beijo. Nossa! Foi demais! Não demorou muito ele conseguiu se levantar. Parece que o que tinha acabado de acontecer o despertou da embriaguez. Sentado e totalmente mudo mal conseguia olhar para mim. Eu então nem queria arriscar falar nada. Ele para aliviar apenas disse:
- Liga o carro! Vamos para sua casa! Tudo bem?
Eu nem sabia o que dizer e nem queria claro. Ele tinha dito minha casa? Fiquei me perguntando a todo momento. A caminho de casa tive coragem de perguntar:
- Anderson... você disse minha casa?
Ele tentando se explicar, deixou claro que o irmão não podia vê-lo em tal situação e que preferia não arriscar para não causar constrangimento.
Eu por minha vez tentei comentar o que havia acontecido pouco tempo atrás e ele não deixou.
- Não diga nada! Não aconteceu nada demais... por um minuto até pensei na minha ex-namorada, e riu.
Nossa! Aquilo acabou comigo. E ele continuou a falar sarcasticamente:
- Engraçado... meu primeiro beijo com ela foi exatamente parecido. E dessa vez ficou mudo.
Enfim, liguei o carro e tornei a seguir o rumo ao qual tinha decidido.
Chegamos rápido até. Deixei o carro na garagem e com ajuda o levei para dentro. Minha mãe que sempre me esperava chegar, estava lá e vendo a situação de Anderson nem perguntou o que ele estava fazendo ali. Ufa... pensei. Apenas com um “boa noite” deixei minha mãe e continuei o meu percurso rumo ao meu quarto.
Chegando nele a primeira coisa que ele viu foi minha cama. Parecia até que já saia onde ficava. Sem pensar se jogou nela e pediu para que eu tirasse seu sapato e pensei, só? Quando o estava fazendo o mesmo me pediu um copo d’água gelada e lá vou eu buscar. Minha mãe que permanecia no mesmo lugar perguntou e dessa vez eu disse o que realmente havia acontecido. Não demorei muito conversando com ela e voltei com a água que ele havia me pedido.
Quando abro a porta do quarto me deparo com aquele “anjo esculpido” só de cueca. Meu deus! Quase quem precisa de água era eu. Era branquinha e combinava perfeitamente com aquele maravilhoso corpo juvenil. Tremendo, cheguei de vagar para dar tempo de apreciar enquanto o mesmo estava de olhos fechados aparentando estar no 3º sono. Foi quando cheguei próximo e ele me disse:
- Já chegou com a água? Muito obrigado!
Levei um susto na hora claro. Estava muito nervoso e nem tava acreditando no que estava acontecendo. Acabando de tomar seu copo d’água ele explica o motivo de estar semi nu na minha cama. Disse que era para não amassar a roupa. Tadinho, mal podia notar que a mesma já estava em situação de passar novamente. Eu não disse nada claro e aceitei a explicação.
Peguei o copo de sua mão que encostará na minha e para tentar relaxar um pouco eu disse que ia tomar banho antes de deitar. Ele apenas balançou a cabeça dizendo que tudo bem. Foi o que fiz então.
No meu quarto não havia outro tipo de colchão ou cama e claro que não ia dormir no chão. Coloquei minha pouca roupa e sentei na ponta da cama pensando de que lado deitaria. Ele que estava de costas se vira e vagamente me abraça passando seus longos braços me prendendo próximo ao seu peito. Já não tinha mais reações. Poxa, eu queria. Realmente eu queria. Disse pra mim mesmo, seja o que tiver que acontecer.
Aproveitando daquela mesma posição apenas deitei do seu lado. Pude sentir todo calor de seu corpo encostando ao meu. Ele me abraçava de uma maneira como se já fossemos algo. Como se ele fosse algum “caso” meu. Me “senti” claro. Tava adorando, mas acabei pegando no sono e dormi.
Pela manhã acordamos quase da mesma forma que dormimos, agarradinhos. O barulho do despertador do meu celular não tinha o acordado, ainda bem. Levantei e preparei aquele café da manhã para “meu anjo”. Idiota eu né? Mas queria que fosse especial, mesmo eu sabendo que não passava tudo de um acaso. Mas enfim, levei o seu café da manhã e o acordei. Parecia que nem queria sair dali. Olhou para mim e perguntou onde dormi. Eu nem disse nada e apenas com minha fisionomia ele mesmo notou que tinha sido ao seu lado. Já com um pedacinho de bolo na boca ele me questiona:
- É... aconteceu algo que eu preciso saber e que eu não lembre?
Até queria dizer mentira, mas não queria perder a amizade dele e tornei a dizer a verdade. Ele por sua vez agradeceu e não sei porque pediu desculpas. Eu apenas concordei dizendo:
- Não foi nada. Só o fato de ter dormido ao seu lado já foi gratificante. Ele riu! Mesmo com toda essa “alegria” ao estar bem, ele se mostrou preocupado com todo o fato e me pediu um grandioso favor de não contar a ninguém o que tinha acontecido. Claro que não ia contar. Apenas comentei:
- Você acha que vou comentar uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida? Nunca! Ai que ele caiu na risada mesmo.
Enfim, fomos tomar banho. Cada um na sua vez claro e fomos trabalhar. Chegando no escritório pouco antes de descermos do carro o mesmo me pergunta:
- Ae, quando quiser tomar uma cervejinha de novo, é só chamar blz? Eu só conseguia sorrir retribuindo toda aquela sua áurea maravilhosa e disse:
- É claro que vou chamar!
Entramos como se tivéssemos nos encontrado no elevador e trabalhamos normalmente naquele e em todos os outros dias.
Nunca mais saímos juntos para mais nada. Apenas nos falávamos quando repentinamente ficávamos a sós. Claro, depois daquele dia ficamos mais íntimos mas o que prevaleceu foi apenas a amizade.
Com pouca semana depois ele havia sido demitido por motivo de projeto temporário e digo, eu sinto falta dele.
Pode não ter acontecido nada demais, rolado nada demais, mas ganhei uma paixão por ele que só como amigos para agüentar.
Realmente eu gosto dele. Mas, apenas como amigos.

FIM